domingo, 18 de abril de 2010

ROSELY SAYÃO

Dinheiro: modo de usar



[...] MAIOR REGULARIDADE DO QUE EU GOSTARIA, ME SURPREENDO COMPRANDO PEQUENAS INUTILIDADES DOMÉSTICAS


Educação financeira é um dos assuntos do momento entre os adultos que participam da educação dos mais novos. Pais e escolas querem que crianças e adolescentes tenham uma visão equilibrada do dinheiro e de seu uso. Tarefa difícil, principalmente quando lembramos que vivemos na era do consumo.
Para os adultos, já é difícil lidar com essa questão. Com maior regularidade do que eu gostaria, me surpreendo comprando pequenas inutilidades domésticas.
Com muito custo, consegui superar o gasto com as grandes inutilidades. Pessoas conhecidas gastam mais do que deveriam e contraem dívidas desnecessárias: carros maiores do que precisam, inovações tecnológicas que pouco facilitam a vida, roupas e acessórios caríssimos, entre outras coisas. E queremos ensinar o uso parcimonioso do dinheiro!
Corretíssimo que nosso anseio seja o de que eles nos superem e não repitam nossos defeitos -faz parte dos princípios de uma boa educação. Entretanto, poderíamos fazer mais do que tentar introduzir na escola -para citar um exemplo- a educação financeira.
Poderíamos começar reduzindo a lista de materiais que os pais compram para os filhos iniciarem animados o ano letivo. Dei uma rápida olhada em listas enviadas pelas escolas e conversei com algumas mães a respeito. Comecemos pelos pedidos das escolas.
Crianças que frequentam a educação infantil precisam levar de 100 a 500 (!) folhas de papel, fora os lápis coloridos, papéis e tintas dos mais variados tipos, colas, pastas, cadernos, agenda etc.
Alunos que frequentam o ensino fundamental e médio precisam levar agenda, cadernos espirais com cem folhas, calculadora e livros, muitos livros! Ah, se a relação entre quantidade de material e aprendizagem fosse direta! Mas não é o que tem ocorrido, como indicam as avaliações internacionais.
Como se não bastasse o exagero dos pedidos de muitas escolas, os pais adicionam outras coisas às listas: malas enormes, mochilas de marca, estojos com múltiplos compartimentos e lápis, canetas e borrachas suficientes para recheá-los.
Para ir à escola são necessários poucos acessórios: um lápis, uma caneta, uma borracha, um apontador, um caderno e os livros. Basta isso, já que não são tais objetos os responsáveis pelo bom aproveitamento do aluno. Aliás, quanto mais material, maior a distração e menor a disposição para a concentração e o esforço para aprender.
Bem, mas não é só em relação ao material escolar que os pais ensinam o mau uso do dinheiro aos filhos: é também no valor da mesada que dão, na compra de roupas, brinquedos e outras coisas que eles já têm -e em grande quantidade. Como as crianças aprendem principalmente observando os pais, seria bom que eles
fizessem mais do que colocar o filho em cursos de educação financeira. Rever os próprios hábitos de consumo e usar a mesada como estratégia educativa talvez sejam os recursos mais poderosos que os pais têm para dar uma boa educação financeira aos filhos.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

rosely.sayao@grupofolha.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


Museu de Valores
http://www.bcb.gov.br/?MUSEU

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